terça-feira, 7 de setembro de 2010

Onde está a qualidade de trânsito para os que andam a pé

“Você costuma matar animais? Pensar mal das pessoas, xingá-las? Você atropela pedestres? Ou ainda: você mata mosquitos? Desculpe-me, mas eu sou chato”, assim Philip Gold, seguidor da filosofia budista tibetana, que dita respeito a qualquer forma de vida, iniciou sua palestra sobre violência viária, sobre as práticas acima e como todas elas são formas de violência, nos tornando criminosos em potencial.

“Todos os dias, centenas de pessoas morrem no trânsito. São pedestres, ciclistas e condutores agindo de maneira violenta uns contra os outros. No entanto, nem só de mortos e machucados é composto o quadro da violência. Atitudes muito mais simples e sutis, como xingar o motorista que demora ou não reduz a velocidade para pedestres também faz parte desse cenário. Tudo contribui para a violência no trânsito”, diz Gold, especialista em segurança viária e mobilidade urbana e diretor da Gold Projects.

O consultor, que prestou serviços para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e outras entidades internacionais, acredita que são muitas as falhas de engenharia que colocam em risco todo o delicado organismo que consiste o trânsito, sobretudo quando o assunto é circulação a pé. “As rodas vieram depois dos pés e, mesmo assim, damos mais importância para o primeiro. Todos os planejamentos urbanos são pensados para os veículos. No entanto, somos pedestres em qualquer deslocamento que fazemos. E as falhas da mobilidade são muitas: problemas nas calçadas, falta de sinalização, intervenções que prejudicam os trajetos a pé e outros. Não são pequenos detalhes, são questões que atrapalham todo o fluxo”, avalia.

O consultor cita uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para mostrar como as condições precárias das vias para pedestres custam caro. “São R$ 2,5 mil por tropeço; e R$ 3,1 bilhões por ano no país inteiro gastos na recuperação da saúde de pessoas que tropeçam em calçadas”, alarma.

Apesar disso, Philip se declara contra a priorização do pedestre no trânsito, e sim que seja dado tratamento igual ao dos demais componentes do sistema viário. “É uma questão de elevação da qualidade das conduções a pé ao mesmo nível de qualidade do sistema de transporte. Eu discordo 100% dos técnicos que dizem que deveríamos priorizar condições para o pedestre”, diz.
Quando perguntado sobre o caminho do meio para o trânsito, o consultor internacional em transportes e tráfego responde. “Precisamos trabalhar em favor do tratamento justo e decente para todos em todas as situações no sistema de transporte urbano: segurança e fluidez – é simplesmente o mesmo nível de qualidade para os que andam a pé. Quando se tem planejamento, nada é um problema”, reflete o especialista.

Fonte: Perkons


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