segunda-feira, 16 de maio de 2011

Adulto que bebe se arrisca mais

Pesquisa do Ministério da Saúde desfaz a idéia de que jovens sob efeito de bebida alcoólica causam a maioria dos acidentes. Curitiba é exceção.

Os dados globais contrastam com os da capital paranaense, onde 39% dos acidentes com comprovação do  uso de álcool foram causados por jovens. 

“Essa faixa etária mais velha ser flagrada com mais frequência no resto do país me surpreende. Não é o que habitualmente vemos nos pronto-socorros. Em geral, a associação de direção com bebida ou drogas é mais comum entre os mais jovens”, argumenta o chefe do Pronto-Socorro do Hospital do Trabalhador de Curitiba, Rached Traya. Uma das conclusões do estudo é que pessoas embriagadas têm cinco vezes mais chances de morrer no trânsito do que quem não ingere bebidas alcoólicas.

Em Curitiba, chama a atenção o alto índice de acidentes envolvendo motos e álcool. De acordo com o estudo, 50% das vítimas de acidentes levadas a hospitais ou ao Instituto Médico-Legal são motociclistas ou quem está na garupa. “Como a moto é um veículo mais vulnerável, o motociclista se machuca mais. Além da colisão, há o impacto com o chão”, explica a médica do Siate Mônica Fiuza Parolin.

Nos 20 anos de existência do Siate, cerca de 300 mil pessoas foram atendidas em acidentes de trânsito. No ano passado, de um total de 20 mil ocorrências, 75% foram em razão de colisões ou atropelamentos. “Nós podemos chamar o trânsito de uma epidemia. É extremamente preocupante analisar o número de atendimentos”, diz a médica do Siate Mônica Fiuza Parolin. A preocupação se deve ao crescimento constante da frota e, sobretudo, ao número de motocicletas novas entrando nas ruas.

Um dos aspectos que deve ser melhorado a fim de diminuir essa estatística é a fiscalização, segundo a coordenadora de Diagnóstico em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde, Vera Lídia Oliveira. “Países que conseguiram transformar o trânsito colocaram a fiscalização como aspecto mais importante no primeiro momento” diz. Outra preocupação, conforme Vera Lídia, é aumentar os gastos com campanhas educativas e orientação.

Na avaliação dela, acidentes envolvendo motos já podem ser taxados de epidemia. “O motoqueiro, como em geral precisa fazer seu trabalho em pouco tempo, acaba sendo mais imprudente”, diz. Coordenadora geral da pesquisa e vice-presidente do CPD, Ana Glória Melcop considera as entregas rápidas como causa do elevado índice de ocorrências com motos. “Eles são cobrados pelas empresas e pela sociedade para que a mercadoria chegue rápido. É preciso mobilizar a sociedade e as empresas de delivery para que a exigência diminua”, diz.

Constatações

O estudo faz ainda ma série de constatações já conhecidas por aqueles que convivem com a violência do trânsito. Em sua maioria, as vítimas de acidentes com comprovação de uso de álcool são homens em 86% dos casos. E, quanto maior a proximidade com o fim de semana, maior a possibilidade de uma ocorrência de trânsito. Em 44% dos acidentes registrados no domingo, houve comprovação da presença de álcool no sangue. Na sexta-feira e no sábado, os índices são respectivamente de 22% e de 34%, bem superiores a média de 11% encontrada na terça-feira.

Ana Glória ressalta que a elaboração da Lei Seca, em 2008, deve ser comemorada porque criou uma nova realidade sobre a associação álcool e direção. “Em uma pesquisa, há dez anos, constatou-se que 72% dos motoristas envolvidos em acidentes estavam alcoolizados”, analisa. De acordo com a pesquisa, na comparação do período de 12 meses após a elaboração da Lei Seca, houve queda de 6,2% nos acidentes.

Pedestres

A coordenadora alerta para a necessidade de as campanhas de trânsito se estenderem a pedestres e ciclistas. “É preciso atingir essa classe, levando em conta o nível de escolaridade dessas pessoas”, diz. De acordo com a pesquisa, constata-se que pedestres vítimas de atropelamento e ciclistas envolvidos em acidentes são, em sua maioria, pessoas que não chegaram a cursar o Ensino Médio. “Por isso as campanhas precisam ser criativas”, afirma. Há, ainda, preocupação com pedestres embriagados circulando pelas ruas, já que eles estão na segunda colocação entre o perfil de vítimas de acidentes, atrás dos motociclistas.

Fonte: Gazeta do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário