quarta-feira, 27 de abril de 2011

Lei Seca vira a melhor aliada da vida


Blitzes criadas há dois anos fazem com que média de acidentes fatais do estado do Rio caia em ritmo bem acima da média nacional

Em dois anos, redução de 32% no número de mortos em acidentes de trânsito no estado. Bem mais que o desempenho nacional, que ficou em 6,2%, de acordo com dados do Ministério da Saúde repassados à Lei Seca. O número de flagrantes também diminuiu com o passar dos meses e, se no início, cerca de 15% dos motoristas abordados apresentavam no teste do bafômetro índice de consumo de álcool superior ao permitido, hoje esse número não passa de 7%.

A Operação Lei Seca, promovida a política pública, desponta como principal responsável pela queda nos índices. Nascida da necessidade de fazer respeitar a Lei 11.705, que praticamente proíbe que condutores de veículos consumam bebida alcoólica, para o coordenador da operação, major Marco Andrade, “o estado tem feito a sua parte e o caráter perene da atividade é fundamental para os resultados alcançados nestes dois anos. Os motoristas hoje só têm uma certeza, a de que tem blitz da Operação Lei Seca”, decreta.

A multa para motoristas flagrados excedendo o limite de 0,2 grama de álcool por litro de sangue custa R$ 957 e, em dois anos, foram aplicadas mais de 76.580 infrações, das quais 31.830 por excesso de álcool no sangue.

Exemplo – O desempenho da Lei Seca está motivando outros estados a fazerem o mesmo. Há um mês, o Rio Grande do Sul enviou equipe sob coordenação do vice-governador para conhecer a estrutura da operação. Um mês antes, o governo de Minas Gerais já havia enviado pessoal com o mesmo propósito: conhecer a operação para adaptá-la às necessidades do estado.

Linha dura – Durante estes dois anos, uma série de figuras públicas, como artistas e políticos foram detidos pela blitz, que tem a fama de não aceitar “carteirada”. O último deles, justamente o senador e ex-governador de Minas, Aécio Neves.

O político se recusou a fazer o teste do bafômetro e estava com a carteira de habilitação vencida. Por isso, foi multado em R$ 957. A assessoria de Aécio informou que o exame não foi feito porque a carteira vencida já o impossibilitava de dirigir e que um taxista foi chamado para conduzir o veículo no trajeto de volta para casa.

Segundo o ex-coordenador da Operação Lei Seca, Carlos Alberto Lopes, este também é um dos fatores de sucesso da operação, “fazendo valer o Art. 5º da Constituição Federal que diz que ’todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...’”, escreveu ele em recente artigo.

Conscientização – Além do braço punitivo da operação, existe a preocupação em convencer as pessoas dos perigos da mistura direção e álcool. Para isto, 26 cadeirantes trabalham visitando diariamente bares e casas noturnas. Todos foram vítimas de acidentes de trânsito e dedicam parte da vida a tentar evitar que a história se repita com outras pessoas.

Eles fazem parte da alarmante estatística de meio milhão de pessoas feridas todos os anos em acidentes de trânsito. A meta é convencer as pessoas de que acidentes não acontecem apenas com os outros.

“A intenção por trás de todo o trabalho é fazer com que as pessoas reflitam e nos ajudem a salvar vidas. Todos podem se divertir, mas é muito importante ter consciência de que não se pode pegar a direção caso você tenha bebido. São cerca de 35 mil mortes por ano no Brasil em acidentes de trânsito e em 75% dos casos, o motorista estava alcoolizado”, explica o major Marco.

Segundo o coordenador, o papel dos cadeirantes é fundamental, pois ajuda a prevenir os acidentes. “Eles são provas vivas de que tudo pode acontecer a qualquer pessoa. Faz com que jovens e pessoas de mais idade tenham em mente que ninguém está imune a acidentes de trânsito, mas que boa parte deles pode ser evitada obedecendo as leis e seguindo as regras”. finaliza.

Motorista deve ser treinado em situação mais próxima do real

Polêmicos, mas necessários. Assim estão sendo encarados os treinos noturnos em autoescolas da cidade tanto por instrutores quanto pelos alunos.

“Acho importante, porque é diferente dirigir à noite. Então, devemos ter essa experiência na autoescola. Muda a visibilidade, você tem mais reflexos dos faróis, o trânsito é muito mais intenso nas ruas”, diz Jefferson Solano, de 23 anos, enquanto aguarda a hora de sair para seu primeiro treino à noite.

Para Jorge Moreno, que ocupava a diretoria do Centro de Formação de Condutores do Detran quando a nova regra entrou em vigor, são condições que o motorista encontrará nas ruas e, portanto, é razoável que estejam preparados para isto.

“Eles precisam saber o que acontece quando não tem luz, precisam experimentar a direção em condições adversas, com carros com faróis acesos. Acredito que a medida melhorou a qualidade dos novos motoristas, mas a comprovação só virá em um ano, quando as estatísticas mostrarem se eles se envolvem em mais ou menos acidentes”, avalia.

Entre as reclamações mais comuns para quem precisa cumprir a carga horária noturna, estão a falta de segurança e os horários apertados.

“É ruim conciliar a saída do trabalho com a aula. O horário é difícil pelo trânsito e não creio em muitos benefícios. Além disso, ainda tem a falta de segurança”, argumenta Gisele Braga, de 31 anos.
O instrutor Waldeli da Silva Souza, de 29, no entanto, acredita que, apesar dos percalços, a aula é válida, como as diurnas.

“Tem a questão dos faróis, o trânsito mais intenso, os reflexos nos retrovisores. Só acredito que são poucas aulas noturnas. Mas é claro que qualquer experiência diversa com o instrutor ao lado prepara melhor o aluno para pegar um carro e dirigir sozinho pelas ruas”, diz.

A medida entrou em vigor em maio de 2010 em todo o País e visa a melhorar a formação dos condutores.

Motos: a nova meta

Apesar dos esforços na formação dos condutores, ainda há muito trabalho a ser feito. De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Sangari, o número de acidentes fatais envolvendo motociclistas aumentou 754% entre os anos de 1998 e 2008. Reflexo não apenas da imprudência no trânsito, mas também do vertiginoso aumento do número de condutores habilitados para este tipo de veículo.

Segundo o Detran-RJ, apenas de 2008 a 2010, o número de motoristas com permissão para dirigir motocicletas aumentou em 104.855. Atualmente são mais de 820 mil pessoas que têm a possibilidade de guiar motocicletas no estado do Rio de Janeiro.

Para o instrutor de moto- escola Roberto Santos, de 27 anos, o aumento na procura por motocicletas tem um perfil bastante definido.

“São pessoas que já têm habilitação, mas que querem usar motocicleta para ter mais agilidade no trânsito.”

Dados do Detran corroboram a tese de Santos. No mesmo período (2008-2010), as permissões mistas também aumentaram, com destaque para as permissões AB (carro de passeio e motocicleta), com mais 68.806 novas licenças.

Ação constante muda o comportamento de motoristas do Rio

“No início todos reclamam. Dizem que não precisam fazer o teste do bafômetro. A recusa é constante, mas o trabalho da Operação Lei Seca não é apenas multar, é convencer e informar sobre os perigos de dirigir bêbado. Quando começa o papo e você consegue fazer a pessoa enxergar a realidade, ver o perigo que corre, este é o momento mais marcante das operações”, revela o major Marco Andrade.

De acordo com o coordenador das operações, o caminho correto está sendo trilhado, o que pode ser constatado na mudança de comportamento dos motoristas fluminenses. Desde que começou, a nova política de estado não conseguiu apenas diminuir o número real de acidentes, mas também inibir pessoas embriagadas de tomar a direção.

“Vemos jovens se movimentando e escolhendo o motorista da vez, por exemplo. Isso é muito importante, pois é a criação de uma nova postura. A quantidade de pessoas alcoolizadas flagradas em cada operação hoje é menor do que há dois anos, quando o trabalho foi iniciado”.

A cada semana, são realizadas 35 operações de fiscalização na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. No início, em média 15% dos 150 condutores abordados a cada uma das operações apresentava uma quantidade de álcool no organismo superior à permitida. Hoje, apenas 7% dos motoristas são flagrados dirigindo alcoolizados.

Para o major, isso mostra o reconhecimento da população acerca da iniciativa. “Com dois anos, estamos em ampla campanha para chamar a sociedade para participar das operações, e se conscientizar”, diz.

Estrutura - Cada uma das operações da Lei Seca envolve uma equipe formada por 20 profissionais entre agentes do Detran, Polícia Militar e da Secretaria de Estado de Governo. Em dois anos, foram abordados mais de 452 mil veículos, 50,8 mil apenas na região de Niterói, São Gonçalo, Maricá e Rio Bonito e, desses, 2,8 mil foram apreendidos.

“Uma pessoa pega em flagrante em uma Operação Lei Seca é multada, pode ter a carteira de habilitação e o veículo apreendidos e ficar até um ano sem permissão para dirigir. As medidas são duras justamente para coibir o desrespeito às leis. Sem contar o elemento surpresa, uma característica de nossas blitzes e que fazem o motorista se preocupar. Os locais onde as blitzes são realizadas não são divulgados”, diz.

A próxima etapa do programa é intensificar ações em universidades e escolas de ensino médio com palestras para apresentar a operação e convencer um dos públicos que mais se envolvem em acidentes de trânsito.


Fonte: O FLUMINENSE


Um comentário:

  1. O Estado do Rio está de parabéns por sua atitude em relação à obediência às leis do trânsito, ao rigor com que atua neste sentido.
    O caso do Ex-Governador e atual Senador Aécio Neves é emblemático, significativo e tem alto valor pedagógico, pois mostra que este nefando hábito nacional de dar carteirada, com o pessoal da Operação Lei Seca não funciona (embora eu creia que o Senador nem tenha tentado isto, pois não é do seu perfil).
    Queira Deus que outros Estados da Federação copiem o Estado do Rio e adotem Operações tão rigorosas e eficientes como esta.

    Adilio Valadão.

    ResponderExcluir