sábado, 30 de outubro de 2010

O Caminhão é o Vilão


        
Durante o longo período em que residi na cidade de São Paulo – SP, observei os seguintes fatos relativos ao tráfego de caminhões:

1 – Em São Paulo e outras cidades grandes, trafegam todos os dias milhares de caminhões totalmente irregulares não só na parte legal (documentação) como também e principalmente na parte mecânica; nem sempre os motoristas desses veículos estão devidamente habilitados embora possuam carta e suas viaturas carecem por exemplo, de freios em bom funcionamento. Ou possuem barras de direção gastas e frágeis; a sinalização de segurança não funciona, os pneus estão gastos e as carrocerias em geral estão quebradas;

2 - Todos os dias estes caminhões se envolvem ou causam desastres nas vias urbanas. No dia 27 de outubro passado, em São Paulo,  um caminhão carregado de hortaliças perdeu a direção, atropelou e matou um jovem estudante de 26 anos de idade e deixou mais três pessoas feridas;

3 - Na rua onde moro, no Rio de Janeiro,  que é uma ladeira, um caminhão-tanque cheio de água enguiçou bem em frente à minha casa. O motorista utilizou um calço de madeira para evitar que o veículo descesse ladeira abaixo; argumentei que devido ao peso da carga, um calço era pouco mas ele disse que só carregava um e que só um bastava. Outro caminhão, do tipo baú, devido à grande altura da carroceria, passou pela mesma rua arrastando consigo a fiação telefônica que atravessa o logradouro, derrubando o poste que sustentava a fiação e que fica dentro do terreno de uma vizinha. Apesar de ter feito um grande estrago, o motorista não parou nem para pedir desculpas. Por sorte alguém anotou o número da placa e assim a vizinha pôde prestar queixa e pedir indenização; 

4 – Com frequência as pontes sobre o rio Tietê no trecho de São Paulo são abalroadas por caminhões cujas carrocerias, de tão altas, ou devido ao tamanho (altura ) das cargas não permitem a livre passagem por baixo das pontes. Em muitas dessas ocorrências, a única solução para desentalar esses veículos (que permanecem parados no leito da Av. Marginal criando engarrafamentos) é, às custas dos munícipes, cavar embaixo do veículo para aumentar o vão da ponte;

5 – Dirigindo meu próprio automóvel, fiz mais de cem viagens Rio-São Paulo com ida e volta pela Rodovia Presidente Dutra. Como todos sabem a Dutra sempre foi relativamente bem conservada e há muitos anos possui duas pistas. Apesar disso não foram poucos os desastres com mortes com os quais me deparei nesta estrada, sendo que o que mais me chamou a atenção nestas ocorrências foi o fato de que invariavelmente havia sempre pelo menos um caminhão envolvido no acidente. Convido o leitor a prestar atenção neste detalhe;

6 – Na Dutra também fui testemunha, por diversas vezes, de atos intencionais maldosos cometidos por caminhoneiros inescrupulosos, adeptos da Lei do “Mais Forte” ou” Mais Pesado”;.

7 – Outro terror que se apresenta nas estradas são as cargas perigosas que vão desde os produtos químicos de alta toxicidade até as bobinas de papel, cabos condutores de todos os tipos e calibres, chapas e fios de aço, vergalhões que não raro excedem em muito o comprimento das  carrocerias,  tintas e solventes, betoneiras, containers, cargas vivas, etc. Ao que parece, com raríssimas exceções, essas cargas nem sempre são perfeitamente acondicionadas e amarradas às carrocerias. Na estrada, ao deparar-se com estes veículos,o melhor é fugir deles como o diabo foge da cruz;

8 – Todo mundo sabe que caminhoneiros são intensamente pressionados por seus patrões no sentido de efetuar a viagem no mais curto espaço de tempo, o que os impede de descansar apropriadamente e que muitos deles, por essa razão, são viciados em drogas que inibem o sono.
Não posso deixar de pensar na infinita irresponsabilidade de um chefe ou proprietário de empresa de transporte do interior que manda para São Paulo ou outra cidade grande um motorista que não tem a mínima noção da grandeza e da complexidade da metrópole. Só isso pode explicar a enorme quantidade de acidentes envolvendo caminhões do interior.

É claro que existem motoristas responsáveis, perfeitamente cientes dos seus deveres. Mas cheguei à conclusão de que só vamos lograr a diminuição do índice de acidentes quando as autoridades, além de outras providências, atentarem para o grave problema da incompetência dos motoristas, da ganância e ignorância dos patrões donos de caminhões e também da tolerância criminosa das autoridades que lidam com o assunto.

 assim o caminhão deixará de ser o Vilão.

Waldo Guimarães/outubro 2010
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